Se você é chicleteiro, Deus te abençoa. Se você é ex, Deus tenha misericórdia... A história de João Fernandes da Silva Filho, o Cacik Jonne, ex-guitarrista da banda Chiclete com Banana, é bastante conhecida. Nas rodas de conversa em Salvador, o tema é recorrente, beirando o consenso a versão de que Bell Marques e companhia deixou o “Índio” na mão quando ele mais precisava, ou seja, na hora do aperto.
Acometido de uma rara e degenerativa doença, a ataxia inflamatória (cerebelite), descoberta em 2000 após um mal-estar antes de uma apresentação, Jonne, hoje com 44 anos – 20 dos quais dedicados à banda –, vive recluso, no apartamento da família, no bairro da Pituba. Metade da aposentadoria por invalidez é destinada à compra de medicamentos e ao tratamento fisioterápico, além de fonoaudiólogo. “A doença nunca me tirou a vontade de viver. Eu sei e acredito que Deus vai reverter esse quadro, pois Ele é meu maior médico”, afirmou Jonne numa mensagem veiculada em seu site cacikjonne.com.br e ilustrada por um atestado médico que detalha a doença e o tratamento.
A cerebelite, que “pode ter sido provocada pelo uso constante de álcool e outras substâncias”, de acordo com o neurologista Antônio Andrade, médico do ex-chicleteiro, tirou Jonne de combate. Após um acerto verbal com os ex-companheiros de banda, em que ficou decidido que se afastaria para se tratar e, dali a um tempo, sentariam para conversar sobre sua situação empregatícia, o guitarrista deixou o grupo em junho de 2001, não sabendo que, na verdade, já haviam assinado sua “carta de demissão”.
Índio afastado - No início de 2001, meses antes de se afastar oficialmente da banda, Jonne foi convocado para assinar diversos documentos – dentre eles uma procuração –, sob o argumento de que isso facilitaria a criação de novos contratos com a gravadora BMG, assim como permitiria a regularização do pagamento de cachês, além do compromisso assumido pelo Chiclete de arcar com todos os custos que a doença pudesse lhe gerar.
Confiante no acerto, pois se sentia “lidando com familiares”, e sem suspeitar dos documentos que fora levado a rubricar, Jonne passou os primeiros meses do afastamento da banda recebendo cerca de R$ 6 mil mensais (o valor dependia da quantidade de shows que a banda realizava), e com as preocupações voltadas unicamente para a sua recuperação. Assim foi até o Carnaval de 2002, quando a banda de Bell homenageou o moço do cocar tocando ‘I want to break free’, do Queen, emocionando os foliões no Campo Grande.
Àquela altura, a “caveira” de Jonne já havia sido feita na Mazana, empresa que cuida dos negócios do Chiclete. Segundo uma fonte ligada à defesa do guitarrista à época, um ano antes, a procuração assinada por Cacik fora utilizada para dar entrada numa ação judicial (denominada “lide simulada”, prática considerada fraudulenta por muitos juristas), que consistia numa reclamação trabalhista dele contra a empresa, forçando um “acordo” entre as partes. Em 11/7/2001, sem que Jonne soubesse o que se passava, o juiz homologou o acordo e, no final das contas, teve direito a mixos R$ 3 mil, a título de “quitação” das dívidas do grupo. Na prática, Jonne recebeu uma banana do Chiclete.
Atrás do prejuízo - Após o Carnaval de 2002, quando Bell e banda haviam garantido que o Cacik não havia sido demitido, mas apenas afastado temporariamente, o repasse dos R$ 3 mil foi inexplicavelmente interrompido. Diversas tentativas de contato com os chicleteiros cativos não surtiram efeito. “Bell chegou a ligar aqui para casa, falou com meu pai. Mas disse que não sabia por que o pagamento tinha sido interrompido, que não era com ele”, conta o Cacik.
Sem possibilidade de propor uma solução negociada, como em outros carnavais, Jonne partiu para as raias da Justiça, entrando com duas ações para reivindicar direitos trabalhistas referentes aos 20 anos de serviços prestados: R$ 1 milhão lhe parecia razoável; queixou-se também de 20% na participação e fez os “camaleões” mudarem de cor.
Em dezembro de 2002, por meio de seu advogado, Jonne entrou com uma ação rescisória tentando cancelar a conciliação firmada no ano anterior. Mas não teve sucesso na empreitada, dada a dificuldade de provar o que alegava. Assim, passou a depender unicamente da piedade dos ex-parceiros.
Facebook - A rede social agora tem sido uma forma que o Cacik Jonne encontrou para pedir ajuda e denunciar o descaso e abandono da Banda Chiclete com Banana a sua atual situação. Confira abaixo o post que está sendo divulgado nas redes sociais:
'Quem não tem sorte tem que ter atitude'
Chamo-me João Fernandes da Silva Filho, sou guitarrista e compositor e mais conhecido como Cacik Jonne. Fui, durante quase 21 anos (1980 a 2001), guitarrista da banda Chiclete com Banana e construtor de significativa parcela da história da música baiana. Portador de doença- Ataxia Cerebelar- venho sofrendo limitações progressivas de movimentos no decorrer dos últimos 8 a 10 anos, um problema de equilíbrio no cerebelo. Não pude mais exercer minha profissão. As condições para movimentar-me e trabalhar foram ficando cada dia mais difíceis. Em conversa que mantive com os dirigentes da banda, ficou acertado, verbalmente, que sairia da banda, mas ela assumiria o pagamento de meus honorários como se estivesse tocando e depois faríamos um acordo.
Como se tratava de um acordo justo aceitei-o. Porém, o compromisso verbal não foi cumprido integralmente, porque os honorários prometidos foram sendo reduzidos gradativamente. De forma integral o acordo foi cumprido apenas no período de junho a dezembro de 2001 a janeiro/2002. A partir do carnaval de 2002 os honorários começaram a sofrer cortes inexplicáveis. Vale ressaltar que nesse período tentei inúmeros contatos com a Banda, mas todos foram em vão.
Movido pela necessidade e pelo propósito de ter meus direitos restabelecidos e respeitados, busquei a Justiça. Em dezembro de 2002 foram instaurados até 2005.Ressalto que a minha saúde, com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais comprometida. O quadro agravou-se e as seqüelas da doença atingiram minha visão, comprometeram minhas articulações e afetaram meu andar. passei a necessitar de tratamentos mais especializados e onerosos. Mas, como poderia fazê-los se não dispunha de recursos financeiros para esse fim?. Meus antigos parceiros permaneceram indiferentes e irredutíveis à esta situação, estranhamente, o processo foi julgado à revelia, e o mais grave é que eu, vítima, autor da ação e principal interessado na agilidade do julgamento e do resultado, não soube dessa audiência. Meu advogado recorreu da sentença ao Tribunal Superior do Trabalho, TST, onde o processo foi arquivado. Atualmente estou sobrevivendo graças à pensão do INSS e da ajuda de amigos. Tudo o que almejo é ter o valor de meu trabalho artístico de mais de 20 (vinte) anos, interrompidos por motivos alheios à minha vontade, reconhecido financeiramente, a fim de que possa custear, sem favores, meu oneroso tratamento médico-hospitalar. É justo que alguém que colaborou de forma íntegra a uma banda e a uma história musical baiana sofra este processo de constrangimento? 'pois pra os ricos nada pega' não deixarei de falar até que a morte me leve já que sei que a justiça dos homens pode estar perdida, mas a de Deus não questiono, pois acredito, cedo ou tarde, Ela vencerá'.
Cacik Jonne.
Ouça o que Bell fala a respeito do Cacik Jonne
PBagora
com Blog Metrópole e redes sociais
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